Um ensaio sobre a passagem do tempo

Sempre fui nostálgico. Adoro lembrar de histórias do passado, muitas vezes idealizando o tempo em que se passam essas histórias com um certo romantismo, que nem tenho certeza se realmente existiu.

Na minha mente sempre foi bom relembrar o passado, seja recordando de momentos bons ou até mesmo nem tão bons assim. É quase um passatempo. Já passei uma boa parte da vida pensando em acontecimentos, pessoas, lugares e principalmente sensações que já se foram há algum tempo.

E durante essas sessões de nostalgia, um fato que eu tomava como verdade é o de que alguns lugares ficaram parados no tempo. Tinha a sensação de que isso acontecia com minha cidade natal, por exemplo.

Todas as vezes que eu ia visitar minha família, sempre tinha as mesmas lembranças, acabava visitando os mesmos lugares e voltava pensando: “Puxa vida, esse lugar parou mesmo no tempo…”

Mas da última vez que fui, algo estava diferente na minha percepção. Não sei exatamente o que houve, mas acho que eu finalmente olhei ao meu redor e a ficha caiu: Nada para no tempo!

Meus pais já não moram na casa em que eu cresci, meus irmãos seguiram suas vidas por caminhos bem distintos, meus sobrinhos já estão enormes, enfim, a vida seguiu seu curso. Não só as pessoas, como a cidade também mudou, acompanhou o tempo que passou.

Daí eu entendi. Finalmente entendi que o tempo passou normalmente por lá como em qualquer outro lugar. Que muitas mudanças ocorreram e tudo foi se ajustando ao longo do tempo, que não parou.

E isso me fez pensar sobre as escolas onde estudei, os amigos de outrora que não vejo há tempos, os empregos do passado, a sensação bacana ao andar de bicicleta, os programas que eu via na televisão e até a cidade que não é mais meu lar. O tempo passou igualmente pra tudo e pra todos e, independente do quanto, muita coisa mudou, se adaptou ao presente ou até deixou de existir.

E de repente eu percebi que quem queria que o tempo não tivesse passado era eu.

Você não é especial

Esqueça aquilo que você leu nos livros de auto-ajuda ou naquela apresentação linda que você recebeu por e-mail e encaminhou a todos os seus contatos.
O simples fato de afirmar que todo mundo é especial faz automaticamente com que ninguém seja especial. É como respirar: se todo mundo faz, what is the big deal?
Todas as pessoas são diferentes, isso é fato. Porém milhares ou talvez milhões de pessoas terão uma história de vida parecida com a sua.
A idéia é a mesma: pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Durante esse processo elas realizam um bom punhado de coisas, mas nada que ninguém jamais tenha feito antes.
E depois de você outros virão e farão algo parecido, que será um pouco melhor ou um pouco pior.
Você pode levar uma vida extraordinária e realizar muitas coisas ou levar uma vida miserável e apenas esperar o tempo passar. Em ambos os casos você não é mais nem menos especial.
Decidir como será a sua vida depende de muitos fatores e pode exigir muito ou pouco esforço. Porém, na maioria dos casos, depende apenas das suas escolhas e da sua atitude.
Portanto não fique esperando que o mundo faça algo pela sua vida, pois ele não fará. Faça você mesmo.

Por que todo mundo precisa de um motivo?

Semana passada eu comecei a correr e tenho corrido quase todas as tardes desde então.
Não comentei o fato com muita gente, achei desnecessário. Mas sempre que alguém fica sabendo que eu estou correndo, todos querem saber o motivo: -Quer perder a barriga? -Quer entrar em forma? -Tá correndo pra que?
Eu sei lá porque motivo específico. Estou correndo porque quis correr. Simples assim.
Ninguém pode mudar os hábitos sem algum motivo. Não tem lógica, todo mundo precisa de um motivo pra fazer algo.
E parece inconcebível começar alguma coisa só porque eu quis. E se me cansar, amanhã, na próxima semana ou daqui a 10 anos, eu paro. Sem frustrações, sem arrependimento e provavelmente sem motivo, assim como eu comecei.

Quando se está no meio dos ídolos

E olha que eu achei que não falaria de futebol por aqui, mas como não falar?

Como torcedor, acho que acompanhei desde o fim de uma época em que pode ser considerada a idade média do meu time até os dias de glória pelos quais ele passa hoje.

Mas eu quero falar de uma coisa diferente de história, tradição, qualidade, camisa e tantos outros termos amplamente utilizados pela imprensa esportiva. Nem é meu objetivo exaltar aqui o maior time do mundo, que já teve o maior jogador de todos os tempos, enfim…

Quero falar de como eu me senti uma parte, mesmo que pequenininha, disso tudo.

Era 22 de junho de 2011, dia da final do maior campeonato do continente americano. A emoção já vinha desde o começo do campeonato, mas aumentava a cada classificação, a cada jogo.

E a última semana tinha todo aquele ambiente místico de final de campeonato. 0 x 0 no primeiro jogo, decisão em casa, quase 40000 pessoas estariam no estádio pra gritar euforicamente durante o jogo e, se tudo corresse bem, muito mais após o apito final.

7500 km e um oceano me separavam do local sagrado e era, de alguma forma, impossível ser um dos que estariam no estádio.

E então, nessa bela e fria quarta-feira, logo nas primeiras horas do dia, lá está, na capa do site do time, um vídeo que exalta o jogo da final, com depoimentos de jogadores importantes e uma sequência peculiar de pessoas no final:

Diego -> Coutinho -> Robinho -> Eu -> Pelé -> Fim do vídeo

E assim, de longe, de alguma forma igual ao Pelé (como eu já falei antes, mesmo que pequenininha), eu pude fazer parte do terceiro título da América e ficar ainda mais feliz com o desfecho da história, que todo mundo acompanhou.

O dia em que eu resolvi deixar o cadarço desamarrado

Era um dia comum, uma segunda-feira. Acordei atrasado, me arrumei com pressa e logo fui pro trabalho. Até aí nada de incomum.

Cheguei lá e tinha uma reunião logo cedo. Quando me levanto da cadeira já ouço o primeiro aviso do dia:

Teu cadarço tá desamarrado!
Opa, obrigado.

Fui pra reunião com ele assim mesmo enquanto pensava no quanto pessoas se sentiriam incomodadas com meu cadarço desamarrado. Era só eu não ter o azar de tropeçar e cair.

Chegando à sala de reunião logo fui avisado da falta de amarras. Concordei com a cabeça e continuei ali, como se nada tivesse acontecido.

Voltando pra minha mesa acho que fui avisado mais umas duas vezes, fora as inúmeras vezes durante o dia todo.

Depois desse pequeno experimeno social, no fim do dia, amarrei o cadarço e deixei de ser um transgressor de convenções.

Certezas

Sabe aquelas coisas que você teve curiosidade, mas nunca teve disposição ou coragem pra fazer? Então, deixar o cabelo crescer, pra mim, era uma dessas coisas.

Há quase dois anos atrás, lembro de um amigo me perguntar se eu já havia sido cabeludo. Prontamente eu respondi que nunca tive cabelo grande e, ainda naquela época, tinha certeza de que nunca teria.

O mesmo tipo de certeza que eu tinha quando já tinha viajado pra três continentes e pensei que talvez ainda visitaria a Oceania, mas nunca a África.

O problema não era o cabelo grande em si, mas a fase intermediária e interminável, enquanto ele cresce, na qual fica-se bem estranho.

Mas, no fim das contas, eu fiquei estranho, num lugar estranho, com pessoas estranhas. Até aí nada de estranho, afinal.

Beleza. Foi bem bacana até agora, mas acho que já deu. Depois de um tempo esqueci qual era o propósito inicial, se é que houve algum, porque não me lembro mais…

E foi legal perceber depois que era perfeitamente possível e totalmente indolor. Na verdade eu até gostei mais do que achei que fosse gostar.

E quem sabe eu ainda não aprenda violino ou more na Escandinávia? Porque, com certeza, não desisti de visitar a Oceania.

Chuva

Chove. E não é muito comum chover por aqui, mas chove desde que o dia começou.
Cheguei em casa há pouco, depois de um dia longo e entediante. Nem todos os dias são assim, mas hoje foi.
Não há eletricidade também e com isso não muito o que fazer. A bateria do notebook deve agüentar umas duas horas e depois disso só me resta dormir.
Deitei na cama e fiquei observando as gotas de chuva escorrerem pela janela. Não sei por que, mas olhar pra chuva me deixa nostálgico. Desde criança, me encanta ver gotas de água caindo do céu. Já passei muitos momentos, em várias épocas da minha vida, olhando pra chuva e talvez a nostalgia venha da lembrança desses momentos.
É incrível como é possível se sentir sozinho, mesmo rodeado de pessoas. Aqui, deitado na cama, olhando a chuva, me sinto sozinho apesar de ter mais gente em casa.
Não faz nem uma semana que cheguei e já me sinto só. É engraçado perceber que até o ar é diferente e apesar de gostar daqui, prefiro lá.
E eu que achava que já estava craque em me adaptar a mudanças. Ou talvez, estar lá de novo tenha mudado tudo e voltar agora tenha sido diferente.
Sei lá.
Tinha decidido não pensar muito nisso, mas o que fazer numa noite chuvosa e fria? Olhar a chuva não está ajudando…

Telefonia Celular

Um dos serviços que não são muito bons por aqui é o de telefonia fixa. Existe apenas uma empresa estatal, mais ou menos como era no Brasil antes da privatização. Se você solicita uma linha, tem que dar sorte de ter infra-estrutura pronta na sua rua e muita paciência para esperar que seja feita a instalação na sua casa.

Por outro lado – e acredito que por consequência da telefonia fixa ser ruim – os serviços de telefonia celular são muito bons. Existem quatro grandes empresas concorrentes e a cobertura, nas cidades, é de praticamente 100%. Me arrisco a dizer que não fiquei sem sinal em lugar algum enquanto estava dentro de alguma cidade.

Além disso, todas as operadoras oferecem pacotes de internet 3G e 3,5G (HSDPA) que podem inclusive ser comprados como pacotes pré-pagos, que expiram em 2 meses. Esses pacotes também são por banda utilizada e vão desde 5 MB até 20 GB.

Quando cheguei aqui e estava sem internet, utilizei a internet 3G por um tempo e era realmente rápida (por sorte meu telefone já era 3G, então só tive que comprar um chip, que custou R$ 0,25). Conseguia falar no Skype com vídeo sem problemas, coisa que as vezes não consigo tão bem com a internet que tenho em casa.

Como meu computador é um notebook, sempre que vou viajar,compro um pacote de dados pré-pago e continuo com acesso, onde quer que eu vá.

E os preços, para telefonia, são até mais baratos: o preço do minuto pré-pago é de no máximo R2.85 (aproximadamente R$ 0,70) e ficam mais baratos, com planos pós-pago.

E para a internet 3G, os preços variam de R2.00/MB até R0,19/MB (R$0,50/MB até R$0,05/MB, aproximadamente), dependendo da quantidade de dados comprada. Não sei como estão os preços no Brasil, mas já cheguei a pagar R$6,00/MB.

Já os preços de aparelhos não são muito diferentes.

Meu dia

Essa foi a minha última sexta-feira
A qualidade está baixa, porque eu tirei as fotos com o celular, pra não ficar andando por aí com uma câmera na mão…

7:00
Hora de acordar

7:02
Escolher uma roupa pra trabalhar, ou seja, fechar os olhos e pegar uma camisa random

7:05
Escovar os dentes e tomar um banho

7:35
Caminho pro trabalho (nesse dia eu estava de carona)

8:00
Chegada ao trabalho

9:00
Mesa de trabalho

12:00
Almoçar num restaurantezinho

12:20
Chegou meu prato de feijoada (que é uma coisa rara, pois aqui quase não se come feijão)

13:00
Tchau restaurante…

17:10
Indo embora do trabalho, passando em frente a uma concessionária da Jaguar

17:30
Parada estratégica na loja de bebidas

18:00
Chegando em casa

18:10
Um pouquinho de internet, enquando a cerveja está gelando…

19:00
A cerveja já está no ponto e o barzinho reabastecido

20:00
Churrasquinho, pra encerrar bem a semana

Indo ao boteco

Estávamos indo ver um jogo do Brasil no Ellis Park, que fica em Joanesburgo, em um bairro não muito seguro, se é que dá pra entender. Tivemos que estacionar o carro na rua e ainda sim andar um bocado pra chegar ao estádio, o que nos obrigava a andar pelo bairro durante a noite.

Mesmo com todo o policiamento, ainda era uma senasação estranha andar por aquelas ruas escuras entre casas cheias de grades e estabelecimentos comerciais nada amigáveis.

Quando um de nós (o carioca ixperrrto) resolve tomar uma com os negões num bar ali mesmo e sem perguntar nada, já entra no bar. Eu não gostei muito da idéia, pois era um tipo de bar que nem no Brasil eu me arriscaria a entrar, mas como tinha vários carros de polícia por ali, acabei entrando pra ver como era…

Não preciso dizer que éramos os únicos brancos (numa escala de cor onde 0 é o Michael Jackson e 10 é o Usain Bolt, eu estaria no máximo em 2) dentro do bar e que todos pararam pra nos olhar quando entramos.

O bar era extremamente mal iluminado, tinha uma Jukebox, algumas mesas de sinuca bem acabadas, o caixa era inteiro cercado por uma grade e tinha uma pequena porta, por onde o atendente recebia o dinheiro e entregava as bebidas.

Entramos e fomos ao caixa comprar cervejas, e nesse ponto eramos a atração da noite no boteco. Alguns vieram nos cumprimentar e instantaneamente já pediam dinheiro, seja pra uma cerveja, seja pra um cigarro, mas eles queriam que a gente pagasse alguma coisa pra eles.

Falamos que eramos brasileiros e estavamos indo ver o jogo e era praticamente a mesma resposta de todos: “Brasil, legal, vocês vão ganhar o jogo! Mas você não tem uma grana aí pra eu comprar um cigarro?”

Depois de dar ums moedas a uns dois ou três eu achei que a experiência já tinha sido suficiente e disse pro pessoal que acabando a cerveja devíamos ir embora. Então acabamos com nossas cervejas (aqui não se pode beber na rua) e saímos do bar ainda inteiros. Bem quase, pois quando chegamos ao estádio, um de nós percebeu que a câmera tinha ficado no bar, na mão leve de alguém de lá…